sábado, 1 de junho de 2013

Pizzaria Moraes, um porto seguro


Muito tem se discutido sobre as cifras que se gasta para comer fora de casa. Confesso que este é um assunto muito problemático para mim, que não como fora por necessidade, mas para descansar as patas, a cabeça e ter momentos de prazer. A decoração da casa, a atenção dos garçons, a forma cuidadosa como a comida é servida e, principalmente, o seu sabor, são os pontos que realmente importam. Prefiro me programar e ir uma vez a um lugar bom do que ter duas frustrações em locais meia boca. Tirando os dias de terror, não como comida mais ou menos em casa, então porque aceitaria pagar por isso?

E todo esse papo por conta de boas memórias, que no meu caso sempre tem algo a ver com comida. Quando era pequena, sempre almoçava com meus pais no Piero; lembro-me de não ficar chateada por ter de esperar pela nossa mesa, porque sempre ganhava torradinha de alho de um dos meus amigos garçons, e ficava inventando história fantásticas sentada na escadaria que dava para o segundo andar. A minha irmã não saia de lá sem visitar a cozinha, e ai de nós se não pedíssemos o bendito "macarrão com molho branco", do qual a ratinha só comia uns dois fiozinhos. Profiterole com calda de chocolate e café com uma lasquinha de casca de limão, que em questão de segundos já estava espetada em um palito, correndo pelo salão como um guarda-chuva perfumado. Nunca vou me esquecer daqueles momentos, mas tenho de aceitar que eles se foram e parar de achar que um dia levarei meus filhos lá. Das últimas vezes que resolvemos matar as saudades, nos decepcionamos profundamente. Fora o fato da casa ter mudado de imóvel e agora parecer com um restaurante moderno, a qualidade dos ingredientes caiu absurdamente e o cuidado na prepração não é mais o mesmo. Fico chateada por um garçom que trabalha lá há uns trinta anos; imagino o que não deve ter sido para ele... A torradinha de alho parece uma esponja de óleo; as lulas à dorê vieram borrachudas, insossas e acabaram ficando no prato; o molho de tomate estava ralo, claro e deprimente; só uma massa verde com recheio de ricota, nozes e passas se salvou. O espírito não é mais o mesmo; o propósito é mais parecer do que ser, e eu odeio isso. Basta, Piero. Basta.


Felizmente, alguns lugares resistem ao tempo, a mudanças nos arredores e à troca de proprietários. Quando minha mãe era pequena, seu tio tinha um consultório dentário na Av. Brigadeiro Luiz Antônio, que ficava e em frente a um cinema e ao lado de uma pizzaria muito frequentada por cantores e artistas. Antes de ir a uma sessão, ela e os tios passavam no vizinho para pegar uma redonta e comer durante a exibição. Adoro imaginar a cena do disco de pizza dentro da sala de cinema, o perfume, o queijo escorrendo, a bagunça e ela mordendo a fatia com aquela boca cheia de vontade e zero de vergonha, como só uma criança é capaz de fazer. Hoje minha mãe tem 55 anos, e essa pizzaria não só ainda existe como é a minha predileta! Massa boa, molho de tomate fresco, cobertura na medida e a margherita mais matadora do mundo, com um toque de alho frito. Nos últimos anos foram feitas melhorias no imóvel; agora possuem um serviço de estacionamento e aumentaram consideravelmente a carta de vinhos, mas o serviço e o atendimento continuam impecáveis. Frente a tantas frustrações que temos tido gastando fortunas para muitas vezes comer comida ruim, temos ido cada vez mais ao Moraes, porque lá a comida é sempre maravilhosa, você se sente em casa, gasta uma quantia justa e, de quebra, ainda toma um licorzinho no copo de chocolate; não é um mimo?!?
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 1438, Bela Vista-SP

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